miércoles, 10 de febrero de 2010

Situação (parte 1)

Eram passados das 6:04 de uma manhã que tardava em aparecer, minha roupa havia algum tempo já depositada sobre a cama, se é que posso assim me referir a este leito que me abriga.
Silencioso, encontro um corredor a minha frente, limpo, extremamente limpo, o cheiro de limpeza que me enjoa, retorce meu estômago, nem sequer uma poeira estava lá. Nesse espaço não jazia mais ninguém, apenas um senhor sentado em uma cadeira no final deste, recostado nela a forçá-la para trás, equilibrando-se apenas em seus dois pés traseiros.
De vez em vez eu tenho a impressão de que me olhava, analisava minha situação, mas a manhã ainda tardando a aparecer, me faz apenas sentir seus olhos em minha direção, mas não tenho condições de provir certeza alguma.
O frio e a neve jazem na noite, que as envolve, dizendo a todos, saboreiem esta condição. Minha condição faz de mim um alguém perdido, ainda, mas estou a procurar-me. Quando olho em meu relógio, tais ponteiros não me fazem mais tranquilo, são passados das 6:07, me sinto cansado, talvez seja pela noite que não me deixou estar-me.
Deitar é uma solução, mas o improvisado horário me faz refém, e 15 minutos de sono é pior que não dormir nada, continuo a insistir na minha condição.
É estranho pensar como vim parar aqui, e o que aqui é realmente, só consigo lembrar que me encarregaram de algo que ainda não entendo bem, a noite me fez confessá-la o que não sei direito, é uma espécie de padre, mas sem toda aquela coisa de culpa, vinte aves-marias e o caramba a quatro.
Não vejo olhos repreensivos, porque afinal é noite, e frio, e neva muito, assim sendo, nem os olhos do moço no fim do corredor eu vejo claramente, procuro meus olhos no espelho, mas minha face continua do mesmo jeito, e meus olhos não me encontram.
Esta transposição de horários, movimento repetidos dos ponteiros do relógio, tudo isso me angustia ainda mais, quando batem corretamente 6:17, ouço um forte estalo, este que trás um cheiro forte, de neve com chuva. Escuto os buchichos que junto com a porta entrara, alguém entra espaço a dentro, risadas das quais consigo sentir o hálito.
Não consigo mais pensar, as situações que me dispõem me tornam agora um objeto, objeto insalubre, o qual estará nas mãos de qualquer alguém incapaz. Mas tudo isso não faz sentido, e o frio bate em meu rosto novamente, me concentro, enquanto escuto passos, penso em colocar roupa, meu corpo está perfeitamente enrrugado, disperso, relevo, sorrio.
Chegaram, ...

1 comentario:

J. dijo...

uau!

mas limpeza, né?