jueves, 18 de febrero de 2010

Percurso (2)

Chega junto um não sei o que da noite anterior, que como de costume, acabei vivendo-a na íntegra. Para aquele rapaz gordo, o qual o cheirava o seu próprio hálito, parado diante de mim esbraveja coisas que eu não escuto, não é porque não quero, mas porque não escuto simplesmente, acho que isso eu aprendi, escutar é bom, mas tem coisas que....pois é!!
Me viro deixando-o a esbravejar, o que me incomodava, na verdade, não era ele esbravejar, pois eu não estava escutando-o, mas o fedor de hálito podre, que exalava da boca e todo orifício daquele ser humano. Tudo bem, enfim penso mais uma vez na noite, me acalmo e coloco minha roupa, meu corpo agradece, pois eu estava nu fazia já algum tempo.
Olho mais uma vez para aquele cubículo que me abrigou durante uns dias, e ainda lembro de tantas coisas que deixei esquecido ali dentro, foi bom. Saio acompanhado pelo gordo, não que o tipo físico dele me cause algum transtorno, porém é a única coisa que posso falar dele, eu não sabia seu nome, apelido ou coisa alguma, apenas sabia que ele era gordo, porque assim eu o via e que seu hálito era horrível, e seu corpo já havia incorporado tal cheiro, no entanto não posso me referir ao dito como o "senhor hálito", ou "senhor fedor de hálito", por isso, prefiro, gordo.
O contraste com o cheiro de limpeza do corredor, amenizava agora o fedor de seu hálito, ou corpo, não sei, o que me causava enjôo, nesse momento ameniza. Quando passo pelo fulano do final do corredor, o qual escutei o ronco durante todas as noites que passei aqui, porém que nunca me dei ao luxo que reparar em seu rosto, o que me foi bom, economizei um tanto dos olhares que me foram designados nesse mundo.
Nenhuma luz acesa, e nesse momento ainda o frio e a neve apertavam, o que deixava tudo muito escuro, em outros lugares no mundo, poderia dizer-se bem ser ainda umas 3:19 da manhã, o que me conforta, pois imagino, enquanto ando com o gordo ao meu lado a feder, que em algum lugar uma criança dorme quentinha sob suas cobertas, sem hora pra acordar, uma vez que hoje é feriado, e isso faz do dia ainda mais especial.
Passo, por tudo quanto foi possível suportar, até chegar a porta principal, tendo o cruzar com o homem do final do corredor como meu último desagrado, afinal ele me olhou, e com isso tive de olhá-lo, o que me fez imaginar, quanto eu poderia ter economizado daquele instante.
Enfim, saio e contemplo a noite, nada mais me agrada que o frio e a noite, em um casebre no alto de uma montanha, frente a uma lareira, isso é meu sonho, porém, por hora apenas o frio e a noite, já me bastam. Cruzamos um grande pátio, no qual o homem gordo ao entrarmos, recomeça a falar alto, tentando me fazer escutar, mas me distrai a hipótese de sentir um cheiro de café, eu nem gosto de café, mas o cheiro, o cheiro me traz lembranças maravilhosas, de alguém que eu imaginava junto comigo em minha cabana, mas por hora apenas longe.
Basta!! Me atenho em um instante, pronto a virar-me e atirar-me contra aquele gordo, que me retira de minha imaginação, do meu sossego. Enfim, reflito, tento retomar o rosto da pessoa, mas impossível, o cheiro de café já passou, e me levou a única coisa associada a café que me fazia gostar de café.
Continuamos o percurso, e nos deparamos com uma série de homens, em geral sem semelhança alguma, a não ser a cara de sono, de quem acorda com os resquícios de gritos, ou com o hálito horrível daquele ser vivo que me acompanha.
Chegamos diz ele, o gordo, ao entrarmos na penúltima sala, totalmente retirada do resto das construções que formavam aquele lugar, uma sala escura precedido por um corredor com cheiro de abafado, com uma fraca iluminação, de onde só poderíamos saber duas coisas, não caberia no corredor mais que duas pessoas, e que o hálito do gordo ficava mais insuportável, pois ainda que não falasse o mesmo respirava de boca aberta, o que dificultava qualquer intenção do ar se renovar.
Entramos, por fim, em uma salinha onde não cabiam mais de trezentas pessoas, no máximo, não sei dizer, afinal, sou péssimo em medidas e essas coisas. A sala lotada, afinal era feriado, escolhido a dedo, todos se levantam quando entro, paro um instante e começo a refletir, o relógio bate 6:53, buscando com os olhos um nada incompreensível.
Tá difícil, sentado, todos sentam, uns alguéns falam alguma coisa, porém, não ouço, não por que não ouvi, apenas porque, não ouvi. Talvez ainda tenham alguns lugares livres, pensei eu, o que será, desagradável com certeza, não deixa nunca de ter platéia, porém, todos ali se mostram desagradáveis também, o que não me surpreende.
7:03 no meu relógio, começo a pensar a cada qual ...

miércoles, 10 de febrero de 2010

Situação (parte 1)

Eram passados das 6:04 de uma manhã que tardava em aparecer, minha roupa havia algum tempo já depositada sobre a cama, se é que posso assim me referir a este leito que me abriga.
Silencioso, encontro um corredor a minha frente, limpo, extremamente limpo, o cheiro de limpeza que me enjoa, retorce meu estômago, nem sequer uma poeira estava lá. Nesse espaço não jazia mais ninguém, apenas um senhor sentado em uma cadeira no final deste, recostado nela a forçá-la para trás, equilibrando-se apenas em seus dois pés traseiros.
De vez em vez eu tenho a impressão de que me olhava, analisava minha situação, mas a manhã ainda tardando a aparecer, me faz apenas sentir seus olhos em minha direção, mas não tenho condições de provir certeza alguma.
O frio e a neve jazem na noite, que as envolve, dizendo a todos, saboreiem esta condição. Minha condição faz de mim um alguém perdido, ainda, mas estou a procurar-me. Quando olho em meu relógio, tais ponteiros não me fazem mais tranquilo, são passados das 6:07, me sinto cansado, talvez seja pela noite que não me deixou estar-me.
Deitar é uma solução, mas o improvisado horário me faz refém, e 15 minutos de sono é pior que não dormir nada, continuo a insistir na minha condição.
É estranho pensar como vim parar aqui, e o que aqui é realmente, só consigo lembrar que me encarregaram de algo que ainda não entendo bem, a noite me fez confessá-la o que não sei direito, é uma espécie de padre, mas sem toda aquela coisa de culpa, vinte aves-marias e o caramba a quatro.
Não vejo olhos repreensivos, porque afinal é noite, e frio, e neva muito, assim sendo, nem os olhos do moço no fim do corredor eu vejo claramente, procuro meus olhos no espelho, mas minha face continua do mesmo jeito, e meus olhos não me encontram.
Esta transposição de horários, movimento repetidos dos ponteiros do relógio, tudo isso me angustia ainda mais, quando batem corretamente 6:17, ouço um forte estalo, este que trás um cheiro forte, de neve com chuva. Escuto os buchichos que junto com a porta entrara, alguém entra espaço a dentro, risadas das quais consigo sentir o hálito.
Não consigo mais pensar, as situações que me dispõem me tornam agora um objeto, objeto insalubre, o qual estará nas mãos de qualquer alguém incapaz. Mas tudo isso não faz sentido, e o frio bate em meu rosto novamente, me concentro, enquanto escuto passos, penso em colocar roupa, meu corpo está perfeitamente enrrugado, disperso, relevo, sorrio.
Chegaram, ...